Juno

Histórias de amor eterno são tratadas de duas formas distintas no cinema. A primeira é de maneira fantasiosa: garota espera o príncipe encantado e ambos vivem felizes até os 80 anos, quando morrem de mãos dadas. A segunda é de forma cínica: o amor eterno não existe e a complexidade da relação um dia exigirá seu preço, jogando o casal (ou um dos lados do casal) numa orgia de confusão sentimental. Quando um filme consegue escapar dessas visões maniqueístas, uma obra-prima se forma. Foi assim com As Pontes de Madison, sobre o amor versus comodismo. Foi assim com Antes do Amanhecer, sobre o amor versus a inconveniência da distância. E é assim com Juno, surpresa indie do ano que consegue juntar a magia inocente do primeiro amor e as dificuldades desse amor (?) se manter na vida adulta.O tema é tratado de maneira inteligentíssima pelo roteiro de Diablo Cody. Sua Juno (Ellen Page, sensacional), a garota que fica grávida na primeira transa e decide passar o filho (ou "a coisa", como costuma dizer) para um casal infértil, é uma daquelas personagens antológicas, apaixonantes e reais. Ao contrário da maioria das criações femininas jovens do cinema, Juno tem uma decisão a tomar e encara isso de forma verdadeira. Não há pais desajustados que irão chorar pelo destino "da minha menininha", não há o namorado canalha (neste caso, há o frágil corredor vivido por Michael Cera) e não há uma protagonista idiota e desesperada - é uma garota de inocência assumida, mas lida com isso de maneira esperta.No meio de tanta bizarrice que vemos em filmes sobre adolescentes, Jason Reitman despiu-se do cinismo que apresentou em Obrigado por Fumar e se revelou um diretor sensível e consciente de suas criações. E assim tratou o casal mais velho vivido por Jason Bateman e Jennifer Garner. É um cara com ambições diferentes, roqueiro e fã de filme de terror e quadrinhos, que evita se dedicar a isso porque a mulher não gosta. Essa relação simbiótica (ele se deixa levar pelo amor que sente e ela não percebe que mata o homem por quem se apaixonou ao podá-lo de seus prazeres) é cruel e comum. Talvez seja o melhor de Juno: passar duas horas com pessoas interessantes que podem estar ao seu lado.

fonte: Revista SET
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