O Código Da Vinci

Derivada de um livro moldado para ser um filme hollywoodiano dos bons, a adaptação de O Código Da Vinci consegue ser tudo que o livro não é: tedioso, confuso e inverossímil. O primeiro grande erro de Ron Howard é respeitar demais uma obra que não merece tanto respeito - se até William Shakespeare já recebeu versões ousadas, por que Dan Brown iria ficar com raiva se mexessem em seu "livro fast food"? Neste passo, a primeira meia hora do longa é tão rápida e informativa que não há espaço algum para conhecermos Robert Langdon (Tom Hanks, que leva o papel sem problemas, mas perdido pela própria inércia do personagem) ou sentir alguma emoção pelos assassinatos, coordenados com uma frieza assustadora para um cineasta conhecido por ser meloso demais. O que A Luta Pela Esperança tinha de coração, O Código Da Vinci tem de indiferença.
Após os minutos de confusão, o filme começa a encontrar seu eixo com o apropriado uso de efeitos especiais nos flashback históricos e a fuga de Langdon pelas ruas de Paris. Mas a produção nunca engata a terceira marcha, primeiramente por causa da interpretação robótica de Audrey Tautou, que irrita no papel do espectador médio, fazendo perguntas idiotas o tempo inteiro e recebendo explicações que deixam o longa com aspecto de Cinecurso 2o Grau. Essa impressão só muda quando surge Sir Ian McKellen. Seu Leigh Teabing sarcástico e carismático é a melhor coisa de O Código Da Vinci. McKellen poderia dizer que o mundo é quadrado e ainda assim alguém acreditaria. Não por acaso, ele versa sobre a descendência de Jesus e a divindade de Maria Madalena, garantindo a credibilidade do assunto. Por outro lado, o roteiro usa Langdon como ponto de contestação, explicando que são apenas teorias e mostrando a covardia de Hollywood em assumir a parcialidade adotada por Brown nos seus livros. Será que os milhões de dólares nas bilheterias valem a criação de um trabalho sem personalidade e óbvio?

fonte: Revista SET


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