Sobre Meninos e Lobos


Um filme não precisa ser inovador ou mostrar cenas de sexo, violência ou algo do gênero para surpreender o público. Muitas vezes basta um bom roteiro, um elenco bem escolhido e uma direção segura para criar uma pequena obra-prima. Em seu vigésimo-quarto longa como diretor, o veterano Clint Eastwood conseguiu este feito. Baseado no best-seller escrito por Dennis Lehane, Sobre Meninos e Lobos é sem dúvida seu melhor trabalho desde Os Imperdoáveis e deve ter feito até seu mais fervoroso crítico torcer o nariz. Você pode até dizer que a trama parece tirada de alguma série de TV policial como Lei e Ordem, mas é impossível não se envolver com a história.Depois do fraco Dívida de Sangue – trabalho anterior onde ele interpreta um veterano policial que ganha um coração novo – Eastwood precisava mostrar que mesmo aos 73 anos ainda continua o mesmo sujeito durão que personificou nas telas. Para isso, pegou a história de Jimmy Markum, Dave Boyle e Sean Devine – interpretados respectivamente por Sean Penn, Tim Robbins e Kevin Bacon –, três amigos de infância que voltam a se reunir depois que um deles vive uma tragédia familiar. Tudo começa em um flashback mostrando o trio na adolescência, brincando na rua e escrevendo seus nomes em uma calçada de cimento fresco. Dois homens que se identificam como policiais surpreendem os garotos, repreendem o ato e levam o mais ingênuo do grupo, Boyle. O problema é que ele na verdade é seqüestrado e abusado sexualmente pelos farsantes. Um fato que marcará profundamente não só sua vida, mas de todos os três. Trinta anos depois, cada um deles seguiu seu caminho. Boyle agora é um homem casado, mas que não esconde a imagem de um sujeito atormentado pelo passado. Jimmy Markum é um comerciante que tem um histórico criminoso e que tenta levar a vida com a esposa e três filhas. Os dois continuam próximos, ao contrário de Sean Devine, que se afastou e virou policial do departamento de homicídios. O trágico assassinato da filha adolescente de Markum reúne os três novamente. Devine e seu parceiro Whitey Powers (Laurence Fishburne) são os responsáveis pela investigação, mas Markum decide usar seus próprios meios para encontrar o culpado e se vingar. Para complicar, um dos suspeitos acaba sendo o próprio Boyle – que no dia do crime chega a casa com as mãos cobertas de sangue, dizendo que teve uma briga com um assaltante – e desperta a desconfiança da esposa Celeste (Marcia Gay Harden). Penn e Robbins se mostram no auge de seu talento com interpretações dignas de uma indicação para o Oscar. Mas é o roteirista Brian Helgeland (de Los Angeles – Cidade Proibida que também dirige filmes, como o recente Devorador de Pecados) que faz bonito ao conduzir a história de maneira que não deixa o espectador desgrudar da tela durante os longos 137 minutos de exibição. Enfim, Eastwood mostra como realizar um filme surpreendente sem enfeitar muito. E isso pode ser considerado sua maior virtude.
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abcs